Em
fevereiro, antes de viajar em férias, na volta pra casa pela Av. Mauá, me
deparei com a cena triste das árvores cortadas e derrubadas em frente ao
Gasômetro. Naquele momento entendi porque mais de 100 árvores pelas quais eu
cruzava diariamente estavam numeradas com tinta branca. Fiquei surpresa, chocada
até, mas há meses sabia que a avenida seria duplicada não apenas por ser uma
das rotas à Zona Sul, mas principalmente porque é um dos acessos ao estádio que
sediará a Copa do Mundo em Porto Alegre. Agora, soube também que o projeto prevê
plantios compensatórios na região e em toda extensão da Av. Beira Rio.
Sou
filha de engenheiro e se tem coisa que aprendi com o meu pai é compreender as
mazelas do progresso. Especializado em construção de rodovias, ouvia dele, desde pequena, explicações sobre a necessidade de duplicação
das avenidas em detrimento à diminuição dos passeios públicos. Foi assim com a
Protásio Alves, com a Independência e mais tarde com a Carlos Gomes e a D.
Pedro II. Nós – minha mãe, minha irmã e
eu – com toda nossa emoção feminina, questionando como fariam isso, como
diminuiriam aquelas lindas calçadas, e meu pai racionalmente explicando sobre a
importância do alargamento das vias para a fluidez do trânsito e como isso refletia
no desenvolvimento das grandes cidades.
Aos
poucos fui entendendo que não há crescimento sem perdas. Hoje, tenho certeza de
que as perdas são necessárias para os avanços, e não falo só em termos urbanísticos,
mas no que se refere à nossa evolução como pessoas. Passados os momentos
críticos das perdas, nos tornamos melhores e mais fortalecidos.
Apesar
da dor que o corte das árvores nos causará, eu espero que Porto Alegre saia
ganhando. Que ganhe em infraestrutura, em qualidade de vida, em beleza. Afinal,
como diria um engenheiro dos bons, como meu pai: quer coisa mais linda que uma
avenida bem projetada... Eu, uma jornalista romântica, acrescentaria: com
ciclovias em que se possa pedalar vendo o pôr-do-sol...