quinta-feira, 21 de março de 2013

A compensação que merecemos é uma nova Porto Alegre!!



Em fevereiro, antes de viajar em férias, na volta pra casa pela Av. Mauá, me deparei com a cena triste das árvores cortadas e derrubadas em frente ao Gasômetro. Naquele momento entendi porque mais de 100 árvores pelas quais eu cruzava diariamente estavam numeradas com tinta branca. Fiquei surpresa, chocada até, mas há meses sabia que a avenida seria duplicada não apenas por ser uma das rotas à Zona Sul, mas principalmente porque é um dos acessos ao estádio que sediará a Copa do Mundo em Porto Alegre. Agora, soube também que o projeto prevê plantios compensatórios na região e em toda extensão da Av. Beira Rio.
Sou filha de engenheiro e se tem coisa que aprendi com o meu pai é compreender as mazelas do progresso. Especializado em construção de rodovias, ouvia dele, desde pequena, explicações sobre a necessidade de duplicação das avenidas em detrimento à diminuição dos passeios públicos. Foi assim com a Protásio Alves, com a Independência e mais tarde com a Carlos Gomes e a D. Pedro II. Nós –  minha mãe, minha irmã e eu – com toda nossa emoção feminina, questionando como fariam isso, como diminuiriam aquelas lindas calçadas, e meu pai racionalmente explicando sobre a importância do alargamento das vias para a fluidez do trânsito e como isso refletia no desenvolvimento das grandes cidades.
Aos poucos fui entendendo que não há crescimento sem perdas. Hoje, tenho certeza de que as perdas são necessárias para os avanços, e não falo só em termos urbanísticos, mas no que se refere à nossa evolução como pessoas. Passados os momentos críticos das perdas, nos tornamos melhores e mais fortalecidos.
Apesar da dor que o corte das árvores nos causará, eu espero que Porto Alegre saia ganhando. Que ganhe em infraestrutura, em qualidade de vida, em beleza. Afinal, como diria um engenheiro dos bons, como meu pai: quer coisa mais linda que uma avenida bem projetada... Eu, uma jornalista romântica, acrescentaria: com ciclovias em que se possa pedalar vendo o pôr-do-sol...

domingo, 25 de março de 2012

Um show como nossos pais sonharam

     Eu não vou negar que nunca fui muito fã da Elis. Claro que respeitava seu talento e ouvia algumas músicas. Seguindo essa linha, meu encanto por Maria Rita não  aconteceu logo. Somente de uns anos para cá quando ela gravou músicas com o Rappa e depois “caiu no samba”,  passei a ouvi-la com mais frequência e admirar seu trabalho.
     Portanto, a  emoção que tomou conta de mim durante o show de Maria Rita em homenagem a sua mãe,  causou uma surpresa que, ao longo da noite,  se transformou na certeza de que Elis fazia mais parte de minha vida do que eu mesma lembrava.
   Aquelas canções me fizeram voltar à infância e me causaram uma nostalgia incrível. Músicas como Fascinação e Nossos Pais me levaram às lágrimas. Estar no show com minha mãe, uma fã da Elis, numa etapa de minha vida em que me considero cada vez mais parecida com ela, redobrou a emoção e as recordações.  A mais forte delas, da noite em que  deram a notícia da morte da cantora.  Eu tinha 10 anos, mas lembro ainda de algumas imagens do Jornal Nacional e do semblante triste e inconformado de minha mãe.   
    Naquele tempo, ninguém poderia prever que Maria Rita seria capaz de “substituir” Elis. Hoje, no anfiteatro pôr do sol, Elis estava viva. Não apenas em Maria Rita, que “encarnava “ perfeitamente sua mãe naquele vozeirão e naquele jeitão peculiar de dançar. Elis Regina estava ali no coração dos gaúchos, nas músicas cantadas pelos 60 mil presentes – jovens e adultos de 40, 50, 60 e até 80 anos de idade. O comentário geral era um só: lindo e emocionante. Elis estava ali, em sua terra natal, festejando um dos mais bonitos aniversários de Porto Alegre.                                                      Foto: Ricardo Stricher

domingo, 27 de novembro de 2011

Luzes mágicas na Ipiranga com a Silva Só

Um homem loiro ilumina a esquina da Ipiranga com a Silva Só. Com seus longos cabelos ondulados, uma tez bem branquinha, mistura de anjo com roqueiro, ele lança seus malabares em chamas e leva magia a uma das avenidas mais movimentadas de Porto Alegre. Quando paro ali no sinal fechado, fico fascinada, admirando suas proezas e muito tentada a quebrar uma de minhas regras de sobrevivência em cidade grande:  a de jamais dar dinheiro no semáforo a ninguém. Assim, redundante e convicta.
Porém,  a simpatia que tenho nutrido por ele nos exíguos momentos em que o assisto nas noites de sábado e domingo quando cruzo por ali, vem me deixando inclinada a romper meus princípios. Afinal, em menos de um minuto ele consegue me transportar para um mundo encantado, inspirador,  distante desta vida doida que levamos até mesmo nos fins de semana.
Hoje, vi que traz no braço esquerdo uma tatuagem do Che Guevara e passei a enxergar ali também um sonhador e entendi porque ele mexe com meu lado esquerdo. Da ideologia ao coração, ele venceu:  me arrebatou. Agora, vou esperar o sinal vermelho com muito gosto e oferecer a ele mais do que uns poucos reais, mas meu sorriso e cumprimentos de fã.  

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Dona Expectativa

    Por que esperar tanto de algo que se sabe que não tem como render? É como fazer bolo sem fermento, embatuma, não tem jeito. Mas a Dona Expectativa, não sabe o que é isso. Ela coloca todos os ingredientes na tigela misturados de forma desordenada e fica pretendendo um bolo de confeitaria. Sonha com aquele bolo glaçado, de vários andares, com recheio de branquinho e negrinho, que já está me dando água na boca...
 Como aquele passageiro inconveniente, que fica controlando o motorista do carro, dizendo freia aqui, liga o pisca, olha o sinal amarelo, a Dona Expectativa atropela os pensamentos, imaginando como será bom quando acontecer isso ou aquilo, antes sequer do isso começar  a rolar.
   Fique esperto e siga meu aconselho, fuja dela antes que desande a maionese. Acredite na Dona Esperança.  Esta pelo menos, é a última a nos abandonar!!!

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Insônia e sabiás

Acordo às 5h da manhã, completamente sem sono, e, passados alguns minutos, percebo que não estou só. Os sabiás me fazem companhia. Lá de baixo, das lindas árvores da República eles comemoram a primavera. Motivos temos de sobra, eu e eles, para estarmos felizes e até agitados. Depois de um inverno chuvoso, cinza, os dias agora têm mais cores, mais beleza, mais emoção e, com certeza, mais amores. Não há como não se render a esta estação. As flores cobrem as calçadas, as janelas, as árvores. Porto Alegre veste-se de roxo, rosa e amarelo dos pés a cabeça.
Os sabiás, sensíveis a tudo isto, reagem. E desde muito cedo iniciam a sinfonia animada que toma conta de todos os bairros da cidade. Às 4h já é possível ouvi-los, empolgados, cantarolando um repertório tão manjado quanto o do rei Roberto Carlos, mas que emociona do mesmo jeito. 
É claro que para os insones torna-se difícil voltar a dormir. É fechar os olhos e a festa continua. Não basta para a passarinhada cantar de dia. No meio de toda a poluição sonora, como vão ser ouvidos? Durante a madrugada, destacam-se e fazem serenata. Pensando bem,  quem sofre de insônia, deveria sentir-se privilegiado. Não é sempre que se assiste a um espetáculo assim, de graça, ao vivo e sem sair da cama!! Melhor então eu ir dormir logo. Quem sabe dou sorte de perder o sono e festejar com meus companheiros sabiás a maravilhosa primavera gaúcha...

domingo, 4 de setembro de 2011

Vou de táxi-lotação?

        O porto-alegrense adora uma lotação. Está incorporada à paisagem e às tarefas do cotidiano.   Vale dizer, para quem não está familiarizado, que a lotação é o nosso micro-ônibus ou a nossa van (legalizada, cara e chique), bem diferente daquelas versões cariocas, paulistas e pernambucanas.
         É o táxi da classe média da capital gaúcha. Normalmente, seus trajetos são menos inteligentes do que os percorridos pelos ônibus, além de a viagem ser mais demorada porque não há um corredor específico para lotações. A vantagem, para o passageiro, é o fato de a lotação não ter ponto determinado, o que permite que os passageiros sejam deixados “na porta”. Seja o destino no meio da quadra, passando o semáforo recém aberto ou em fila dupla, o porto-alegrense desce tranquilamente, sem dar a mínima para a bagunça que o veículo causa a todo o trânsito que vem atrás.  
     Talvez por ser motorista, eu tenha tão pouca simpatia pela lotação. Já fui frequentadora em meus tempos de patricinha recém iniciante na UFRGS. E como este tipo de menina mimada não vinga em universidade pública, preferi encarar a realidade do Campus Ipiranga e continuo no ônibus, carro ou táxi até hoje.  Mas como todo preconceito precisa em algum momento ser quebrado, voltei a utilizar a lotação, pois só ela faz um de meus trajetos obrigatórios semanais.
       O retorno até nem foi ruim, mas serviu pra constatar que esta preferência dos moradores de Porto Alegre não faz parte das minhas, principalmente porque destoo do mundo dos passageiros deste meio de transporte. Não aproveito a mordomia de ser deixada “na porta” – jamais peço para o motorista parar onde possa perturbar o tráfego – e não uso laquê suficiente para ter o penteado impecável de algumas companheiras de viagem. Talvez me falte incorporar um pouco de atitudes burguesas no que se refere ao transporte. Nesse quesito sou socialista demais e prefiro o balanço dos ônibus e suas regras coletivas. 

sábado, 2 de julho de 2011

Congelando o pensamento

   A gente que escreve tem muitas ideias na cabeça, às vezes tantas que não consegue formulá-las e transformar num bom texto. Costumamos também ser exigentes com o resultado, e,  assim, muito assunto iniciado nunca se completa e nem mesmo vira texto. Vai direto pra lixeira.
    Quem gosta de escrever, normalmente tem o senso crítico aguçado para o que se passa a sua volta. Se for jornalista então, tem curiosidade, muita opinião e até palpites – uma avalanche de pensamentos sobre o poste de luz, o lixo nas esquinas, a saída de incêndio do seu local de trabalho (esta fundamental para nós na Siqueira Campos nº 1300), os resultados do campeonato brasileiro.
Com isso tudo martelando o seu cérebro o dia inteiro, principalmente quando não sobra tempo pra escrever sobre assuntos casuais, a confusão mental toma conta. Nestes momentos, que não são muito raros, o texto não sai. O meu talvez tenha ficado congelado nestes dias frios que tanto abomino. Não teve vinho que me salvasse e, por isso estou tentando voltar agora.
    O bom foi que voltei a tempo de ser solidária com o Renatinho. Ele teve a sorte de voltar pro Rio antes da próxima geada! Eu que não sou sua fã, fiquei foi com inveja! Por mais que não goste do Portaluppi, acho que ele está merecendo relaxar depois dessa puxada de tapete do Grêmio. Fugir do frio é sempre bom pra gaúchos cariocas como nós. Tenho certeza que em poucas horas naquele calorzinho, naquela paisagem, minhas ideias se coordenariam novamente.